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sábado, 28 de agosto de 2010

E então ele se mostrou inteiro. E se encontrou no canto mais escondido. No lado mais escuro. No ponto mais secreto. Emoções que há muito tempo não apareciam. Que ele nem sabia mais que existia. De objeto de desejo a desejo de se apaixonar. De histórias para viver e se encantar.
Se olhou no espelho. Analisou profundamente sua vida. Seus encantamentos ainda existiam? Sobreviveram às rajadas de metralhadora que enfrentou? Resistiram aos sonhos partidos jogados ao chão? Ainda era forte o suficiente para levantar a cabeça e olhar para frente?
Desafiou a imagem refletida. Procurou a armadura mais leve que guardara. Decidiu que encararia de frente. Peito aberto. Refletindo os sonhos perdidos, os amores vividos, os projetos inacabados. Resolveu buscar o novo, mergulhar no desconhecido, dar um salto mortal e se jogar de cabeça naquele mar bravo, selvagem. Por que bravas e selvagens também eram suas emoções.
Se descobriu forte, não importava o que tivesse acontecido. Se viu grande. Se viu poderoso. A imaginação na frente do espelho inventava um novo personagem naquela história. Aliás, a história não era mais a mesma. A vida não era mais aquela. Os desejos haviam mudado de direção. Apontavam, agora, para um ponto que ele não conhecia. Que ele nem imaginava que existia.
Será que, finalmente, encontrava o desafio que sempre sonhava? A motivação que tanto buscava? Começou a pensar que sempre procurou no lugar errado. Que não estava fora, mas, sim, bem lá no fundo. Dentro. Guardada. Sufocada. Apenas esperando a hora certa para romper a casca que a segurava. Uma casca frágil. Que não resistia àquele profundo desnudamento. Àquela profunda redescoberta.
Virou-se. Deu as costas para o passado. Sem lamentar, sem sofrer, sem se culpar. Simplesmente deixou para trás. Não voltou para cobrar, muito menos para pagar. Rodou a chave na fechadura e finalmente entendeu que a vida sempre se transforma. E que mudar com as estações era um jeito de não ser sempre a mesma árvore. Que mesmo imóvel, sempre se transmuta, se adapta, se reinventa e se renova.
Abriu a porta e a luz invadiu o quarto. Fechou os olhos e sentiu o calor de um novo momento. Pisou firme e foi embora. Sonhar novos sonhos coloridos, ver novas imagens daquele mesmo velho lugar e encontrar um novo sentido para tanta vontade que começava a pintar dentro daquela caixa repleta de novos desejos.